segunda-feira, 5 de abril de 2010

Lula: o que há por trás desse fenômeno?

Desde o primeiro mandato, denúncias parecem não fazer efeito sobre Lula, seja nas urnas, nas ruas ou até mesmo na comunidade internacional. Aliás, já foi recebido, com honras, no palácio de Buckingham pela rainha da Inglaterra, Elizabeth II, e, de quebra, vira e mexe participa de churrascos com o presidente George Bush, dos EUA. Sem falar na espetacular vitória que obteve em 2006, quando foi reeleito, em segundo turno, com uma frente de mais de 20 milhões de votos.

Permaneceram os ataques diários, mas a popularidade de Lula não caiu. Ao contrário, em pesquisa realizada em março de 2008 pelo Datafolha, ele atingiu 55% de aprovação (ótimo/bom), maior taxa obtida em seu mandato, o que, somados a 33% de regular, dá ao presidente 88% de aprovação.

[Pesquisa divulgada segunda-feira - 29/03/2010 - aponta aprovação ainda maior do Governo Lula: ótimo/bom, 76% da popuçação; regular, 20%; ruim/péssimo, 4%].

Afinal, que fenômeno é este? E por que norte-americanos e ingleses têm se mostrado tão próximos a Lula, taxado por muitos de esquerdista e de comunista? Logo esses países, antes aliados da direita brasileira, das tradicionais elites e também do regime militar... Seria mesmo Lula e o PT comunistas, esquerdistas? O que está acontecendo, afinal?
Analisemos algumas colocações.

O Brasil, como muitos países em desenvolvimento, é diretamente dependente da influência de grandes potências (no nosso caso, os EUA). Até meados da década de 1980, interessou a norte-americanos um governo ditador, com decisões adotadas de cima para baixo, basicamente por dois motivos: economia mundial desajustada, em função, ainda, das duas grandes guerras, e ameaça comunista (URSS). Mas, é possível que não gostassem muito da idéia, em função dos ideais de liberdade proclamados por eles.

O governo e as tradicionais elites brasileiras, neste período, tiraram “de letra”, devido ao fato do nosso país ter como base, desde a colonização, a concentração de renda e de poder. Ao povoar o Brasil, o governo português buscou suprir as necessidades das realezas parasitas, permanecendo centrado num sistema que seguia na contra-mão da economia européia, mercantilista e, posteriormente, capitalista.

O Brasil, na condição de galinha dos ovos de ouro, deveria ser mantido, sempre, como colônia. Dentre as medidas adotadas, leis que destinavam a herança do senhor de engenho apenas para o primeiro filho. A concentração de imensas áreas de terras nas mãos de poucos garantiria a dependência por mais tempo. Aliado a isso, o controle da mão-de-obra escrava através da chibata.

A partir da década de 1980, o perfil econômico e político mundial tem exigido mudanças radicais em realidades como a brasileira. Podemos arriscar o palpite de que o modelo concentrador brasileiro não mais interessa às grandes potências, agora empenhas em ressuscitar o liberalismo econômico, denominado de neoliberalismo.

O que seria para os investidores internacionais a volta de um Collor ao poder e a decisão de seqüestrar o dinheiro dos bancos? Uma verdadeira tragédia e ameaça às bases do neoliberalismo. Então, como mudar as formas de poder, no Brasil?

É possível que o governo Fernando Henrique Cardoso, antenado (ou aliado) ao ressurgimento do liberalismo, tenha sido um divisor de águas e preparado o caminho para sucessores (no caso, Lula), com o apoio de EUA e Inglaterra (há até quem diga que a Inglaterra está patrocinando o MST*; observe que, caso isto seja verdade, há uma analogia histórica com o fato dos ingleses influenciarem o fim da escravidão, como forma de impulsionar o capitalismo que aparecia no final do século XIX com a mão de obra assalariada).

Com o caminho aberto, Lula dá continuidade ao que FHC iniciara. A disputa do poder se polariza, somente, entre o PSDB e o PT. Resumindo: FHC teria enganado as tradicionais elites brasileiras e Lula quebrado o que se chamava de esquerdas, com suas paixões e ideais socialistas/comunistas.

Há de se considerar a “coincidência” que foi o surgimento do PT, no final da década de 1970 e início da de 1980, justamente quando Ronald Reagan (então presidente dos EUA) e Margaret Thatcher (então primeira-ministra da Inglaterra) promoviam o retorno do liberalismo.

Como seria esta influência junto ao imaginário na população? Exemplo: nos últimos anos, enquanto o Jornal Nacional veicula insistentemente denúncias contra o Governo Lula, as telenovelas abordam temáticas antes ideologicamente proibidas, como direito de minorias, liberdade e valorização de afro-descendentes e muito mais, tudo em conformidade com pospostas sociais do atual poder.

Também são esmiuçadas falcatruas praticadas nos meios políticos de todas as esferas, como licitações, negociatas, corrupções, deixando-se claro que tais práticas são antigas e não frutos do governo do PT. Ao contrário, transmite-se a mensagem de que só agora é que há denúncias e punições. A publicação de tais assuntos eram impensáveis há 30, 40 anos, sujeitas a prisão e tortura.

Hoje, afirmações como “vou dar uma surra no presidente” deixam seus protagonistas cada vez mais distantes do modelo da nova ordem política e econômica mundial. E isso diz respeito a correntes que não percebem, não compreendem e/ou recusam-se a admitir esta realidade.

Fonte: Everaldo Goes – jornalista e graduado em História
everaldo@uefs.br

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